Atualmente a dependência química também chamada de Transtorno por Uso de Substâncias é tida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença biopsicossocial porque ela afeta a vida do indivíduo que é acometido por este transtorno em todos os âmbitos de sua existência seu corpo físico, suas relações sociais e também por consequência todo o seu funcionamento psicológico.

O consumo abusivo de substâncias psicoativas leva o sujeito acometido por essa doença a desenvolver outras doenças e comorbidades psicológicas que podem o levar à morte, ou seja, a adicção é uma doença crônica, progressiva, incurável e fatal.

O portador desse tipo de distúrbio acaba por não conseguir conter o vício porque as substâncias atuam no sistema nervoso central, alterando a forma de o indivíduo pensar, agir ou sentir. Não existem até hoje exames que possam comprovar que a pessoa será acometida pelo Transtorno por Uso de Substâncias antes dela de fato usar alguma. Por isso a importância de campanhas que visem prevenir o uso.

O uso de drogas é tão antigo quanto a história da humanidade. Em diferentes culturas, sociedades e épocas, o homem sempre consumiu drogas lícitas ou ilícitas, sem que este consumo constituísse problemas e apresentasse motivos para alarmes sociais, pois estas substâncias eram consumidas com finalidades diversas e entendidas como uma manifestação cultural e humana, porém atualmente o uso já não tem mais essa finalidade

O uso atual de drogas é um sintoma resultante das rápidas e substanciais transformações no modo de organização das sociedades industrializadas, que resultaram em um sistema de vida racional, materialista e normatizador, no qual o consumo de drogas assume a forma de evasão, de contestação e/ou transgressão.

Além do consumo de drogas ter assumido nos dias atuais um novo significado, nas últimas décadas, o consumo de drogas tem tomado dimensões preocupantes, o que o tornou um grave problema de saúde pública com consequências para o indivíduo, sua família e comunidade.

Por comprometer diversos aspectos da vida cotidiana, e justamente por comprometer diversos aspectos da vida cotidiana se faz necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar para alcançar bons resultados no tratamento dessa doença, dentre os membros dessa equipe podem atuar: psicólogos, psiquiatras, terapeutas comportamentais e conselheiros em dependência química dentre outras especialidades.

O que são drogas e os critérios da classificação da dependência

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo que pode atuar sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) provocando alterações no seu funcionamento. Essas alterações podem variar de um estímulo leve, como o provocado por uma xícara de café, aos mais intensos, com a mudança na percepção de tempo, de espaço ou do próprio corpo, provocados pelas drogas alucinógenas.

Com a publicação oficial do DSM-5, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana, os diagnósticos de Abuso e Dependência de Substâncias foram reunidos e denominados Transtorno por Uso de Substâncias, que abrange dez classes distintas de drogas: álcool; cafeína; cannabis; alucinógenos; inalantes; opióides; sedativos, hipnóticos e ansiolíticos; estimulantes; tabaco; e outras substâncias.

Pela nova classificação, a dependência pode ser leve, moderada ou grave. Sendo o diagnóstico determinado pelo número de critérios que o indivíduo apresentou por mais de um ano. Por meio desta os dez critérios serão descritos abaixo em tópicos para facilitar a compreensão dos mesmos, por meio desta fica mais fácil nossos leitores averiguar se realmente se classificam como dependentes químicos.

  1. Uso em quantidades maiores ou por mais tempo que o planejado

  2. Desejo persistente ou incapacidade de controlar o desejo

  3. Gasto importante de tempo em atividades para obter a substância

  4. Fissura importante;

  5. Deixar de desempenhar atividades sociais ocupacionais ou familiares devido ao uso

  6. Continuar o uso apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais

  7. Restrição do repertório de vida em função do uso

  8. Manutenção do uso apesar de prejuízos físicos

  9. Uso em situações de exposição a risco

  10. Tolerância e abstinência.

Ou seja uma relação de dependência se estabelece quando há um investimento desproporcional do sujeito sobre um objeto específico, de tal forma que, esse envolvimento prejudique a participação em outras esferas da vida do sujeito (laboral, afetiva, social)

Porque o psicólogo é importante para o auxílio do tratamento de dependentes químicos?

Dentre tantas funções o papel do psicólogo no tratamento da dependência química é sua aptidão para tratar o motivo que levou o dependente a recorrer às drogas como uma saída para os problemas porque inicialmente sempre existe um problema chave que leva a pessoa a consumir, eles são inúmeros sendo estes:

  • Timidez,

  • Aprovação do grupo de amigos,

  • Dores físicas após trabalho braçal,

  • Inabilidade em aceitar as mudanças ocorridas na vida,

  • Luto entre outros.

Descobrindo-se qual a causa inicial levou o sujeito a iniciar o consumo é mais fácil de entender como e o porque ele manteve-se usando até gerar uma substância e aí sim, o ajudar a enfrentar esse problema inicial que foi tão intenso naquele momento que o levou a alterar a sua realidade consumindo drogas.

A Psicologia é formada por inúmeras teorias e visões sobre o ser humano e sobre a formação da personalidade desses indivíduos, cada uma enxerga a dependência química de uma forma e atribui um motivo a ela de acordo com sua leitura acerca do funcionamento psíquico e/ou as relações estabelecidas entre os homens e o meio, entre as teorias mais conhecidas estão: as de personalidade (Modelo Psicanalítico) que entende que a dependência química existe pelos sujeitos buscarem viver continuamente momentos de prazer ou sobre o domínio desse prazer.

Abordagens que Transformam Vidas

Na abordagem fenomenológico-existencial, a dependência constitui-se como uma possibilidade de escolha dentre as possíveis disponíveis no mundo. Essa escolha, pelo uso de psicoativos, é tida como inautêntica e deliberada, ao transferir para a droga o seu projeto de existir.

A abordagem que mais tem trazido resultado no tratamento desse transtorno são as comportamentais, pelo modo prático e mais rápido de entender e tratar a doença. Para a teoria comportamental, todo comportamento é consequência da interação do indivíduo com seu ambiente.

São os eventos ambientais que determinam o comportamento, e não a consciência e o autocontrole. No modelo do reforço, a manutenção e a extinção de determinados comportamentos são explicadas pelos conceitos de reforço e punição.

Pensando no consumo de substâncias psicoativas, estas são entendidas como um estímulo cuja função dependerá das consequências produzidas e do contexto em que é administrada. A repetição do consumo ocorreria pelo papel reforçador da substância, ou seja, a substância pode desempenhar um papel de reforçador positivo, onde o aumento da probabilidade de repetir o uso estaria relacionado às consequências recompensadoras, prazerosas, desse consumo. Na função de reforçador negativo, o aumento do consumo da substância se justificaria pela retirada de algo aversivo, desagradável, à exemplo, afastar/ aliviar os sintomas da abstinência.

Independentemente da abordagem teórica utilizada, o papel do psicólogo no tratamento da dependência química é: em primeiro momento acolher a pessoa e mostrar para ela que a mesma é portadora de uma doença logo após ajudar o dependente químico a entender os fatores que o levaram ao consumo de substâncias psicoativas e por quais motivos ele continua consumindo, para assim conseguir entender toda a problemática que envolve esse consumo.