Entender ao menos minimamente sobre a dependência química, possíveis causas e tratamentos exige no meu ponto de vista uma postura semelhante a de um maestro que ao ensaiar a apresentação músical precisa ser atento a cada membro da orquestra, treinar seu conhecimento para saber quem está tocando fora do ritmo e fazer as correções que lhe são conferidas devido ao cargo que ocupa.

Familiares,profissionais até mesmo algumas instituições estabelecem por circuntâncias variadas uma forma única e engessada para lidar com a dependência química.

Cada sujeito possui sua história, subjetividade e uma forma particular de se relacionar com o mundo exterior; e atualmente este mundo exige um exercício constante de treino para manter a resiliência e empatia como aliados no processo de recuperação.

 

O verbo “ter”

Muitos são os fatores que podem levar ao surgimento da dependência química, entre eles, o próprio estresse do dia-a-dia somado a problemas de origem emocional. A presença do vazio existencial, da frustação e o prazer volátil em relação a realizaçãode sonhos, projetos, objetivos. Vivemos um momento que que a ordem da moda é “ter”, e não o “ser”. Preocupa-se com o próximo relacionamento afetivo, carro,trabalho, formação; mas não se encontra a mesma energia depositada em manter o que já tem. A questão que é posta aqui não passa por um discurso moralizante e conservador, mas trata-se de pontuar que o limiar de vazio é cada vez maior devido a fragilidade, da pouca duração do desejo em ser, em preservar aquilo que se tem. Neste contexto, concluo que é primordial que se treine em família a capacidade de se pôr em lugar do outro, e que mantenha a perseverança nos momentos cada vez mais eternos de vazio.

“(…) O sujeito da modernidade líquida se constitui por inúmeros mal-estares, sentimentos de aflição, insegurança, depressão, ansiedade, já que são permanentemente ameaçados de se tornarem supérfluos. (…)” (TFOUNI; SILVA, 2008.) ”