Por que a Família?
Primeiramente quero pontuar o que chamo de Família neste contexto: Penso, por vivência, leituras e reflexões que, o conceito de família pode ser aplicado quando, a partir de duas para mais pessoas consanguíneas ou não, se unem por laços de solidariedade, convivência, afeto, projetos em comum e cooperação. Sobre as configurações familiares, acredito que Reconstituídas, Bi nucleares, monoparentais, Homo afetivos, Nucleares, e mais outras, podem ser consideradas como tal e têm potencial significativo para atuar em seus membros como estimuladoras para o risco, prevenção e ou proteção quanto ao uso abusivo de drogas. Assim, a configuração familiar muito provavelmente não vai predizer o prognóstico presente e futuro acerca do rico da drogadição. Mas voltando ao título deste texto, Por que a Família? Primeiramente porque esta é a primeira instituição socializadora de um sujeito, logo, é a partir desta dinâmica que o Humano inicia a construção de sua performance mais ou menos contingente e sistemática de se relacionar com o mundo externo. e a forma como ele apropriar do que for oferecido poderá fazer significativa diferença nas suas escolhas e forma de se relacionar com o mundo.
Logo, existiria um modelo de família ideal? Talvez em algumas ideologias, filmes hollywoodianos e modelos definidos por períodos históricos, culturais e discursos moralizantes extremistas. Porém, voltando a minha bio profissional e acadêmica, estou seguro em relação á algumas conjecturas, a saber: uma comunicação violenta e precária, permeada por julgamentos, agressões, prolixa e cifrada ou a total falta de comunicação; A pouca ou ausência da prática da resiliência, comportamentos compulsivos em outros membros familiares, falta de rituais socializantes como reuniões, programas sociais entre o grupo familiar, intolerância ás escolhas razoáveis de cada um, desconhecimento do que seja empatia são alguns requisitos para uma família potencialmente incentivadora de comportamentos autodestrutivos como o uso abusivo de drogas. Claro, teríamos mais uma dezena de páginas para dissertar acerca a atuação das famílias, mas este pequeno ensaio acredito poderá trazer luz aos familiares com dependência química instalada no seu escopo.
Recuperação e religiosidade
Em um mundo de modernidade, onde está em voga o eu e a satisfação pessoal, vemos o crescente índice de violência crescendo, bem como o número de dependentes químicos e co-dependentes. Do mesmo modo, vemos que o consumo de drogas pelos nossos jovens tem gerado grande prejuízo em todas as classes sociais e cada vez mais, a religiosidade vem sendo colocada em segundo plano.
Em tempos de isolamento social, corona-vírus a situação tem se agravado e nós como cidadãos temos contribuído pouco na elaboração de uma política de drogas mais assertiva compatível com nossa realidade.
Contudo, o lado positivo desse isolamento social e da pandemia que o mundo está atravessando, é que muito hoje em dia tem voltado seus pensamentos para a religiosidade e sabemos que Deus não desampara aqueles a quem ama e em sua soberana vontade. Ele tem transformado vidas apesar do nosso eu, muitas vezes falar mais alto, muitos na esperança de vencer o mal desse século, vão ao encontro de clínicas de recuperação na expectativa de encontrar forças, mas eles mal sabem que o primeiro passo encontra-se no fato de admitir sua fraqueza e procurar a ajuda necessária.
Entidades como Narcóticos Anônimos (NA), Alcoólicos Anônimos (AA), igrejas (independentes de credo e denominação) tem se posicionado e mesmo trabalhado contra todo tipo de vício que acaba sendo tanto um problema de ordem espiritual, como médica e psicológica. Por este motivo é necessário se munir de todos os recursos necessários, especialmente ter um acompanhamento psicológico e espiritual, porque muitos ao fazerem uso de sua substância de preferência, fazem como meio de fuga para seus problemas.
A realidade é que a maioria de nós precisa de qualquer tipo de recuperação, sejam experiências mal vividas, erros cometidos e etc., por isso, depositar sua confiança em um poder superior é muito importante, assim como ter um acompanhamento terapêutico e familiar, todavia, precisamos saber que o caminho para a recuperação nem sempre é curto, fácil ou indolor seja para o recuperando ou para seus familiares. O mais importante é manter a autoestima, perseverar e não se entregar ao derrotismo. Perseverar é melhor do que desistir, pois quando você desiste, estará trocando algo importante de sua vida, por uma satisfação momentânea.
Todo tipo de recuperação será menos agressiva se estiver baseada na graça de Deus que sempre nos oferece oportunidades para um novo recomeço. Uma dica é você investir tempo no convívio com pessoas que possa te encorajar a desenvolver uma vida saudável. Deus tem um propósito em sua vida e esse propósito encontra-se ao seu alcance.
Márcio José Pinheiro
Teólogo/Escritor
O Humano, o mundo e algum efeito colateral.
Sabe-se que a cultura, e até mesmo parte do que é “verdade” varia ao longo da história. Tivemos momentos em que toda a verdade e possibilidade de sucesso e realização somente poderia se concretizar àqueles que se subordinavam ao “divino” que punia e castigava com frequência, grande paradoxo não?
Tivemos também, a crença ideologizaste de que a ciência positivista e mensurável, somente esta, daria conta de tudo e de todos.
Em função de tais extremos, e de uma tentativa do humano se explicar, se entender, ou justificar suas características, grandes pensadores foram conjecturando e dando contribuições significantes.
Dentre várias tacadas, vimos reflexões sobre a religião comparada ao ópio, depois o capitalismo no lugar desta outra, mas tudo com traços de pertinência até chegarmos aqui. O “mundo líquido” de Zygmunt Bauman, talvez, o maior filósofo da atualidade.
Mundo líquido porque tudo flui com mais rapidez, inclusive os valores, os amores, os sonhos. Um mundo onde permitimos ter nossa intimidade escancarada e, principalmente, o ponto que mais se faz necessário destacar aqui: o mundo do ter e não do ser.
É feliz quem tem àquilo que o outro tem e diz que é melhor, é feliz quem sabe conquistar e não quem sabe administrar um relacionamento. A questão é como tudo é rápido, da mesma forma, o vazio chega a todo o momento podendo ser gatilho para dependência química.
Família atuando
O afeto é a arte de afetar…
No caso de um mundo assim, cabe à família priorizar acima de tudo o afeto. Mas no sentido de provocar o crescimento no outro.
Como?
Algumas dicas
Uma comunicação pura, sem cifras e sem julgamentos. Treino da empatia e resiliência, espiritualidade, mas no sentido de colaboração mútua. Noção de limites e respeito; e, sobretudo exemplo.
A família influencia e é influenciada por todos os seus componentes, logo essa tem papel primordial na mediação, educação, formação e sentido crítico no sujeito, tornando-o assim mais forte frente aos desafios pela busca da plenitude.
Uma convicção eu deixo aqui
Recadinho meu às famílias de dependentes químicos
Caríssimas e caríssimos, a busca pela sobriedade do seu ente amado deve ser feita com discernimento. Não se culpe ou pense que só você poderá resolver a questão. Seus sonhos, autocuidado, projetos individuais são necessariamente atributos indispensáveis para uma atuação correta e eficaz na ajuda de seu familiar.
Perseverança, temperança, ciência e saúde física e mental, é o que eu desejo para seguir seu propósito.
- Nesta edição pretendeu-se:
- Possibilitar ás Famílias de dependentes químicos nossas possibilidades de intervenção.
- Ceder espaço ao colega Márcio Pinheiro com o objetivo de Refletir sobre a importância de se trabalhar a espiritualidade.
Fornecer ás famílias com dependência química instalada uma visão ampla acerca da relação do dependente químico e a contemporaneidade.
Agradecimentos Caríssimos e caríssimos leitores, Agradeço à atenção dedicada a leitura desse boletim informativo e espero, ajudem a quem precisa de apoio no que diz respeito à dependência química.