Falar de comportamento adictivo de maneira enfática como costumamos falar em nosso AcheAqui BLOG tem um motivo mais que especial, tal motivo é o porque a dependência química não tem cura? Esse artigo tem o intuito de levantar uma breve pesquisa e relatá-la aqui mesmo. Sendo assim, não damos respostas vagas à nossos leitores, muito pelo contrário. Valorizamos a informação e o conteúdo para que quando nossos leitores nos procurem, saibam que estão lendo assuntos importantes e de temática valorizada. Além do mais são artigos com embasamento. Escrito de maneira sucinta e de fácil entendimento.

Entretanto, esse artigo será mesclado entre informação de pesquisa e um pouco da minha opinião como adicto. Justamente para nos aproximarmos e deixarmos claro que; independentemente de quem está lendo esse artigo; seja ele dependente ou familiar, estamos juntos no mesmo barco remando na mesma direção. Em minha vivência dentro do contexto da dependência química há mais de 10 anos, entre altos e baixos, eu aprendi muito sobre o âmbito do comportamento adictivo aliado à circunstância da dependência química.

Vivência Química

Antes mesmo de começarmos, meu nome é Renan R. Ré e independentemente de profissão eu sou um adicto em recuperação. Comecei a vivenciar minha experiência com as drogas em 2010 e no decorrer de dois anos, já saí do uso esporádico casual para um uso frenético e abusivo. Sendo assim, em 2012 a droga já havia me dominado por completo. Eu custava ficar bem sem ela. Sequer conseguia sair da minha casa sem um pino no bolso e quando estava com meus amigos, me isolava para usar.

Eu nunca tive amigos que me incentivaram ao uso, muito pelo contrário, eu estava escolhendo ser a ovelha negra da turma. Graças à Deus, sempre tive apoio de meus amigos para evitar cair na tentação do uso. Quando falam pra mim de companhias que incentivam o uso, eu não compreendo muito essa questão, justamente porque a pior companhia que eu tinha, era eu mesmo.

Quando eu ouvia falar da expressão fundo do poço, eu sequer imaginava o que estavam dizendo. Eu apenas fingia ouvir os conselhos de amigos e continuava no uso. Foi até que em 2016 eu tive minha primeira overdose e fui parar no pronto socorro. Dei entrada no processo de internação em Araras e depois comecei lentamente a aprender mais sobre a dependência química.

Incurável, Progressiva e Fatal

Exatamente, apesar de muitos que não querem ouvir isso, é exatamente assim. Ao se tornar dependente químico, o procedimento é irreversível. Justamente porque a dependência química é considerada uma das doenças de cunho mental. Ou seja, é um transtorno mental onde caso não feito o tratamento adequado, pode levar à morte. Para reafirmar isso no site da Unimed Coop, o médico psiquiatra Mario Vinicios Silva Martelo define a dependência química como: um processo onde o consumo repetitivo de drogas leva o indivíduo a consequências terríveis causando até mesmo prejuízos irreversíveis. Para ressaltar a questão de sua fatalidade a OMS também define a dependência química como progressiva, crônica e fatal.

Ou seja, achar que é só mais uma vez, ou que você dá conta sozinho do recado é a mesma coisa que atravessar uma avenida movimentada com vendas nos olhos. Além do mais, pessoas que desenvolvem esse apego às drogas, têm como característica a presença de comportamentos obsessivos e compulsivos considerados comportamentos adictivos, isso dentro do processo da adicção. Para salientar tal questão, existem grupos de apoio como Narcóticos Anônimos que ressaltam a importância do tratamento em grupos e a expressão “Sozinho eu não consigo” é muito utilizada, refutando a necessidade de realizar o tratamento e falar sobre o assunto.

Humildade e Aceitação

Mesmo cavando a própria cova eu não me considerava viciado. Mesmo fazendo empréstimos e empréstimos para poder usar eu não me considerava dependente químico. E aí as coisas só foram piorando. Como todo adicto que gosta de drogas, eu relutei muito a questão do tratamento, até ter tido minha primeira overdose. Dentro da instituição eu aprendi o que é a doença. Por isso a questão da humildade é muito importante para realização do tratamento da dependência química. A dependência química tem cura? Não! Então a questão mais pertinente é aceitar humildemente isso e começar a fazer o tratamento.

A aceitação é um princípio mais que importante para se realizar o tratamento de acordo. Parar de lutar e remar contra a maŕe é a melhor coisa. Aceitar e mudar é um dos princípios básicos para se dar o pontapé inicial para um tratamento que apesar de doloroso inicialmente, trará no futuro, bons frutos. Sendo assim, aprender que quando se está cara a cara com a dependência química, a melhor maneira de vencer a doença, é não entrar em uma briga com ela. Temê-la e respeitá-la de maneira a ver suas limitações é de extrema importância para começar um tratamento correto.

A Mesma Doença mas Personagens Diferentes

A doença é a mesma mas o que muda são os personagens e a maneira em como é vivenciada a questão da adicção. Sendo assim, vivenciar a vida como adicto é uma particularidade e individualidade de cada um. Cada um realizará o tratamento da doença dentro do seu tempo. Existem uns mais precavidos que não querem chegar o fundo do poço. E outros mais aventureiros, como eu, que cavava o fundo mais fundo o poço. Questionar-se do porque a dependência química não tem cura, não trará salvação ou tratamento. Isso é justificar racionalizar a doença. Quando na verdade o que têm de ser feito é realizar o tratamento.

O primeiro passo é abrir o jogo para a família. Buscar um médico psiquiatra para ajudar na questão da ansiedade por abstinência da substância, e cessar fogo do uso. Feito isso, o primeiro passo já foi dado. Em decorrência de se manter limpo, o raciocínio lógico vai voltando e a questão de aderir a um tratamento pertinente à situação vai se formando. Desta maneira, recorrer a um acompanhamento psicológico é mais que necessário para expor os sentimentos e além do mais, realizar a manutenção em grupos de apoio fortalece o espírito. Todos esses pilares fortalecem o indivíduo, e aumenta a distância entre a doença e a mente.