Antônio Silva (Pseudônimo) – Piracicaba
Meu primeiro contato com as drogas foi entre 13 e 14 anos. No começo da adolescência. Eu usei várias drogas diferentes, mas minha afinidade com elas também foram em diferentes fases, em momentos diferentes. Eu tive problemas com cocaína dentre os meus 16 à 17 anos, eu parei depois de uma tempo, e voltei a usar aos 22 anos.
Posteriormente eu tive problemas com o tabagismo e com o álcool. Estes últimos foram muito intensos também, era difícil administrar o uso da maneira que eu gostaria, mas eu não conseguia. Quando percebia, eu estava fumando demasiadamente e ao mesmo tempo que tentava administrar o uso do álcool, quando percebia, já estava bebendo.
A minha família não chegou a perceber que eu tinha contato e problemas com drogas, álcool e tabaco. Eles sabiam que tinha alguma coisa errada, mas como eu era muito discreto, eles deixavam a desconfiança de lado. Mas concomitantemente eu não achava ou acreditava que eu tinha um comportamento adictivo com relação às substâncias. Então, como resultado eu não recorria à ajuda de ninguém.
Quando eu fui perceber mesmo que eu estava com problemas ligados às substâncias, foi algo muito meu. Foi uma coisa muito minha, justamente porque sempre fui uma pessoa muito reservada nesse quesito. Eu não estava feliz da maneira que as coisas estavam caminhando, mas ao mesmo tempo sempre guardei o problema junto à minhas reservas.
Então, quando eu me descobri e me assumi dependente para comigo mesmo, eu lidei de maneira autônoma nesse processo. Em geral, eu nunca pedi apoio para ninguém, mas ao mesmo tempo eu tentava substituir meus comportamentos compulsivos e obsessivos com outras práticas positivas para com meu corpo. No caso, o exercício físico. Foi como um vai-e-volta, não foi uma parada espontânea.
Nas época em que eu estava concentrado na prática da atividade físicas , eu conseguia me manter mais estável emocionalmente, produzir coisas benéficas para mim mesmo e por consequência manter-me limpo. E por resultado também, me sentia no controle da situação.
Porque justamente quando eu me afundava nas drogas e no álcool, eu me tornava uma pessoa caótica, por consequência, a vida ficava muito difícil. Então eu olhava pra esse tipo de situação e não queria mais vivenciá-la. Eu queria sair disso, eu queria que tudo mudasse. E viver essa triste realidade que me dava forças para começar a mudar minhas práticas, para comigo mesmo, e consequentemente viver melhor.
É como se isso fizesse com que eu mesmo criasse um plano de recuperação, que envolvia, criar uma rotina pra mim pra que eu deixasse a bebida e as drogas de lado. Mas quando sentia que estava tudo bem que eu tinha controle, eu voltava o comportamento e acabava usando novamente.
Hoje, apesar de não ter precisado me internar, eu estou mais consciente, acho que consciente é um bom adjetivo para explicar o que eu sinto. Eu acredito que os problemas com as drogas não envolvem só as drogas em si. Muito do que me fazia entrar nos ciclos problemáticos que tinham haver com a questão da droga, era a falta de consciência de que eu estava me afundando naquele ciclo. Então, agora que eu vivi a experiência do uso, que eu sei os marcadores que vão me fazer entrar nessa espiral negativa novamente, eu consigo controlar meus comportamentos, antes que eu dê o start do uso.
Apesar dessas indas e vindas, de momentos de sobriedade à momentos de recorrência do uso da cocaína e de álcool. Fiz uma parada instantânea de ambos à aproximadamente 3 anos. Foi muito importante para minha mente e consequentemente para a saúde do meu corpo. Eu me senti livre e ao mesmo tempo um vencedor. E hoje eu me considero uma pessoa muito mais vitoriosa, porque eu consegui largar do cigarro há pouco tempo. Sendo que era uma substância que eu, apesar de saber que me fazia mal, recorria frequentemente ao uso.
Depoimento Colhido por Renan Rugolo Ré em 29/07/2020